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O que é a 'supercana' de Eike Batista, a nova aposta para reerguer seu império

Ele já foi o homem mais rico do Brasil, mas viu a fortuna evaporar em meio ao colapso de suas empresas e de acusações de corrupção. “De volta”, Eike Ba...

O que é a 'supercana' de Eike Batista, a nova aposta para reerguer seu império
O que é a 'supercana' de Eike Batista, a nova aposta para reerguer seu império (Foto: Reprodução)

Ele já foi o homem mais rico do Brasil, mas viu a fortuna evaporar em meio ao colapso de suas empresas e de acusações de corrupção. “De volta”, Eike Batista promove uma variedade de cana-de-açúcar que ele diz ser muito mais produtiva que a convencional - e que foi recebida com desconfiança pelo setor. O empresário Eike Batista em seu escritório no Rio de Janeiro, em 31 de março de 2025 REUTERS/Ricardo Moraes Depois de quase uma década longe dos holofotes, o empresário Eike Batista anunciou no fim de fevereiro em suas redes sociais que estava "de volta". "I'm back", ele escreveu no X, ao compartilhar uma notícia da plataforma de informações financeiras Bloomberg em que ele alegava ter garantido investimento de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,95 bilhões) para seu mais recente empreendimento: explorar uma nova variedade de cana-de-açúcar como matéria-prima para a produção de combustível de aviação e embalagens sustentáveis. Também em inglês, o post seguinte marcava Elon Musk, o bilionário à frente do X e de empresas como Tesla e SpaceX: "Hey @elonmusk, remember Rio '08? Let's talk supercana and X!" ('"Hey Elon Musk, lembra do Rio em 2008? Vamos falar de supercana e X!") O texto fazia referência a um suposto encontro dele com o atual conselheiro sênior da gestão Donald Trump na Casa Branca — um churrasco na casa de Eike — e à aposta do empresário brasileiro no que apelidou de "supercana". 💰 BILIONÁRIOS DO AGRO: veja os brasileiros que estão na lista CAVIAR NO CACHORRO-QUENTE: iguaria invade pratos nos EUA Detalhe da apresentação sobre o projeto: segundo empresário, variedade de cana é muito mais produtiva que a convencional REPRODUÇÃO Nos comentários, as opiniões se dividiram. Alguns o parabenizaram pelo retorno ao mundo dos negócios, expressaram admiração por sua trajetória, enquanto outros reagiram com ceticismo e com críticas ácidas, muitas respondidas pelo empresário. "Nossa, como gosto de haters!!!", ele chegou a rebater, em maiúsculas. Parte da desconfiança se deve à trajetória de ascensão e ruína de Eike e de seu "império X", um conglomerado que reuniu empresas de logística, óleo e gás e mineração no final da década de 2000 e que em poucos anos desmoronou em meio a escândalos envolvendo, por exemplo, o suposto superdimensionamento do potencial de projetos nos quais as companhias estavam envolvidas. À BBC News Brasil, Eike se defendeu argumentando que parte dos objetivos ambiciosos daquela época não se concretizaram porque os brasileiros, "por uma questão cultural", não lhe deram o tempo de que precisava para reerguer seu negócio quando ele se viu diante de uma "crisezinha". E citou mais uma vez Elon Musk, que teria "quase pedido falência em 2019", para depois encaixar uma trajetória de crescimento em suas empresas. "Só que, nos Estados Unidos, o pessoal tem mais paciência. Viu que o projeto era bom e disse: 'Tá certo, vamos dar mais uma oportunidade'. Deixou ele levantar mais recursos na bolsa", completou, em entrevista por viodeconferência de seu escritório no Rio de Janeiro. Ele também se disse vítima da má gestão de executivos da empresa, que estariam entre os responsáveis pelos números que alimentaram as estimativas demasiadamente otimistas, comparando sua situação com o que aconteceu recentemente com as Americanas, que esteve no centro de uma fraude contábil. Eike chegou a ser o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna que atingiu US$ 34,5 bilhões em 2012. Foi preso em 2017 e detido em 2019 no escopo da Operação Lava Jato, assinou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República em 2020 e foi condenado pela Justiça Federal do Rio por crimes contra o mercado de capitais em 2021. Ele é alvo de cinco ações penais em andamento e recorre em todas elas. Parte de seu patrimônio ainda está bloqueada pela Justiça. Um dos aspectos mais marcantes da derrocada do império X foram as promessas bilionárias que não se concretizaram, em especial as reservas de petróleo da OGX, que acabaram revisadas para uma fração do previsto inicialmente, dando início à crise que engoliu o grupo em 2013. Daí o ceticismo em torno da "supercana" que o empresário tenta agora promover, que produziria de duas a três vezes mais etanol por hectare do que a cana convencional e de 7 a 12 vezes mais bagaço, na mesma comparação. Essa não é, contudo, a única razão. Leia também: 🍫CHOCOLATE DE DUBAI: como o desejo de uma grávida virou febre mundial Cachaça tem cabeça, coração e cauda; saiba qual parte pode ser consumida Novo capítulo de uma história antiga Muita gente da indústria canavieira olhou para o anúncio com ressalvas. Primeiro, porque o setor passou anos investindo em pesquisas de variedades de cana-de-açúcar semelhantes à do projeto, que produzissem mais bagaço, e acabou abandonando a maioria das iniciativas, que muitas vezes não se mostraram economicamente viáveis. Depois, porque o próprio negócio que é hoje foco do empresário também tem uma história que críticos veem como fracassada. O empresário Rubens Ometto, controlador da Cosan, conglomerado que atua na produção de etanol e açúcar, tocou em ambos os assuntos em um comentário breve durante uma conferência promovida pelo banco BTG Pactual em fevereiro. "Falar do Eike... É difícil criticar, mas já fizemos isso e abortamos. Começamos pequenos e abortamos. Conheço os técnicos que estão lá, que eram daquela empresa da Votorantim...", ele disse. Um dos técnicos aos quais Ometto faz referência é o agrônomo Sizuo Matsuoka, que há décadas se dedica ao melhoramento genético da cana-de-açúcar e é personagem central da nova empreitada de Eike Batista. Por e-mail, ele declinou o pedido de entrevista feito pela BBC News Brasil. Neto de imigrantes japoneses, Matsuoka começou a estudar sobre cana-de-açúcar em 1968 no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e foi professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). No início dos anos 2000, fez parte da equipe que fundou a CanaVialis, uma iniciativa da Votorantim Novos Negócios focada no melhoramento genético da cana com diferentes finalidades, para desenvolvimento de variedades que produzissem mais açúcar, por exemplo, ou mais bagaço. A pesquisa do agrônomo se concentrou nessa última vertente, que acabou ficando conhecida no setor como "cana-energia". Nesse tipo de aplicação, a biomassa da cana (o bagaço) é, de forma simplificada, queimada para produzir energia. A lógica é a mesma da lenha ou de qualquer outra matéria orgânica usada com fim semelhante: o calor da queima esquenta água até que ela produza vapor, que deve então ser capaz de girar uma turbina para converter energia mecânica em energia elétrica. Por isso, o foco do melhoramento genético em variedades que produzissem mais bagaço. Quanto mais bagaço, mais insumo para queimar. "Cana-energia nada mais é do que você tentar selecionar variedades de cana que, em vez de produzirem açúcar, transformem esse açúcar em celulose", explica Fernando Reinach, que foi contemporâneo de Matsuoka na CanaVialis e presidente da companhia. "Ela não é uma 'supercana'. É selecionada para, em vez de produzir açúcar, produzir energia." Em 2008, a CanaVialis foi vendida para a Monsanto, que fechou a empresa em 2015. Muito antes disso, contudo, Matsuoka havia deixado a companhia para investir no próprio negócio, batizado de Vignis, e dar continuidade à sua pesquisa. Em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em 2014, ele disse que a decisão de sair se deu porque sabia que a ideia da cana voltada para a produção de biomassa e energia ia "se perder" na CanaVialis, que teria eleito outras prioridades de pesquisa. Cana com mais bagaço é mais dura e mais difícil de ser processada GETTY IMAGES A Vignis operou entre 2011 e 2017, quando entrou em recuperação judicial. Eike se aproximou de Matsuoka ainda em 2015, quando, por meio de uma companhia batizada de BRX, embarcou no negócio. Na visão do empresário, a falência da Vignis foi de certa forma efeito colateral das dificuldades financeiras que o grupo Odebrecht, que era então um de seus principais clientes, passou a enfrentar quando se viu no centro da Operação Lava Jato. "Se a Odebrecht não tivesse quebrado lá atrás, essa empresa [Vignis] já estaria voando há muito tempo", ele comentou durante a conversa com a reportagem. Apesar do revés, ainda segundo Eike, o agrônomo insistiu na pesquisa nesses últimos anos, tendo importado germoplasmas (material genético) de cana-de-açúcar dos Estados Unidos, da França e da ilha de Barbados e promovido cruzamentos para desenvolver 17 novas variedades. "Por isso que a gente chama esse o maior programa de melhoramento genético convencional do mundo", diz Eike. O "convencional" se deve ao fato de que as variedades são desenvolvidas a partir do cruzamento de plantas, ao contrário, por exemplo, da engenharia genética feita em laboratório, que produz plantas geneticamente modificadas. Leia também: Chocolate x 'produto sabor chocolate': saiba identificar as diferenças Cacau mais caro: preço dispara em 2 anos e vai mexer com a sua Páscoa As críticas Na última década, contudo, os projetos na área de cana-energia têm sido abandonados pelos principais centros de pesquisa do país. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), uma das referências globais no desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar, é um exemplo. Segundo sua assessoria de imprensa, o foco hoje é no desenvolvimento de "variedades por melhoramento genético e biotecnologia tendo em vista o aumento da produtividade dos canaviais e controle da broca-da-cana". O CTC não respondeu ao questionamento feito pela reportagem sobre a razão para a ausência de pesquisas especificamente na área de cana-energia. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por sua vez, também declinou pedido de entrevista da BBC News Brasil. Sua assessoria de imprensa afirmou que "pesquisas com cana-de-açúcar acontecem em diferentes centros de pesquisa da empresa", mas que, "considerando o contexto da matéria, o tema 'supercana' não está entre os abordados em nossas pesquisas no momento". Reinach enxerga pelo menos duas principais razões que explicam por que a cana-energia saiu do foco do setor nos últimos anos. Uma delas é que ela tem poder calorífico menor do que outras fontes de biomassa, como a lenha, por exemplo. Ou seja, é necessário um volume maior de bagaço para produzir a mesma quantidade de energia. Isso significa maior custo de transporte, caso o bagaço tenha que ser queimado em um local mais distante de onde a cana foi plantada. "Quando você traz de longe, ele fica não competitivo", explica o pesquisador, que é membro da Academia Brasileira de Ciências. Cana cresce mais rápido do que outras fontes de biomassa, mas tem poder calorífico menor GETTY IMAGES Outro motivo seria o fato de que a cana que produz mais celulose e menos açúcar é muito mais difícil de processar. "Ela fica tão dura que é quase impossível você colocar em uma moenda para tentar tirar açúcar", ilustra. Esse ponto também foi destacado por José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da consultoria MB Agro. Ele cita o caso ilustrativo da GranBio, empresa que investiu na cana-energia para produção de etanol de segunda geração (feito a partir de celulose em vez de açúcar) nos últimos dois anos e esbarrou em uma série de problemas, entre eles, a tecnologia usada para processar o bagaço. A empresa acreditava, equivocadamente, que conseguiria utilizar o maquinário que já era empregado em outros tipos de biomassa, como a madeira, para processar a cana. Foi o que disse, em janeiro, o CEO da companhia, Bernardo Gradin, durante o lançamento do projeto que justamente reorientou a direção dos esforços do negócio. Segundo reportagem da plataforma Capital Reset, o uso de bagaço de cana e de outros tipos de biomassa para produzir o combustível verde não seria mais o foco, que passaria a fontes como o biometano. Usina de cana-de-açúcar restaura mata nativa e consegue renda com a preservação 'A gente não está aqui pra divulgar mentira' Questionado pela reportagem sobre as críticas, Eike Batista diz que seu objetivo não é explorar a "supercana" para produzir energia por meio da queima, mas para usos "mais nobres", como matéria-prima para a fabricação de plástico biodegradável, a partir do bagaço, e de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), a partir do etanol. "O etanol vai pro SAF, que eles querem botar na [nos aviões da] Emirates", diz o empresário, referindo-se ao fundo árabe que, segundo ele, prometeu os US$ 500 milhões para o investimento, o Abu Dhabi Investment Group (Adig). Sobre a dificuldade de processar a cana com mais bagaço, ele afirma que o projeto prevê o desenvolvimento de novas máquinas, maiores e mais reforçadas. "As pessoas levam de um jeito muito leve: 'Ah, as plantas não dão para processar essa cana'. Mas peraí, se eu tô produzindo três vezes mais, essa conta se paga numa velocidade absurda. Por isso, nosso negócio começa todo do zero", pontua. Segundo o empresário, a "supercana" é hoje cultivada de forma experimental em uma usina de referência no interior de São Paulo, em Araras. O projeto modelo deve ter início neste ano, com o plantio de 50 hectares no norte do Estado do Rio, em uma região próxima ao porto de Açu, onde também serão construídas três fábricas de processamento. As projeções dos gestores preveem que as embalagens a partir do bagaço comecem a ser produzidas em 2026 e o SAF, a partir de 2028. A estimativa é que, até 2031, a área plantada alcance 70 mil hectares. Eike diz que já tem sido procurado por cooperativas interessadas em fazer consórcios. E encerra a entrevista se referindo aos "haters": "Tem gente que [fala] 'Ah, mas o Ometto falou…', mas tem gente que vai pesquisar mais, vai querer ver e todo mundo vai falar assim: 'Não, a supercana do Eike que vai virar tudo de cabeça para baixo'. E a gente não está aqui para ficar divulgando o quê, uma mentira? Que besteira é essa?"